segunda-feira, abril 14, 2008

Vulcão provocou inverno devastador do ano 1600


Matéria interessante que estava na Folha de São Paulo de hoje. :)


Vulcão provocou inverno devastador do ano 1600

Estudo liga única erupção a safras ruins, fome e neve recorde no mundo inteiro

Partículas lançadas pelo Huaynaputina, no Peru, desencadearam a pior onda de frio em seis séculos em todo o planeta, diz cientista

DA REPORTAGEM LOCAL

Cientistas já sabem há algum tempo que grandes erupções vulcânicas têm o efeito de resfriar a Terra ao encher a atmosfera de partículas com enxofre. Um estudo publicado agora por geólogos da Universidade da Califórnia em Davis, porém, mostra a que ponto pode chegar essa influência sobre o clima. Estudando eventos que se seguiram à erupção do vulcão Huaynaputina, no sul do Peru, em 1600, os cientistas mostraram que ela deve ter sido a causa de um inverno recorde em um período de seis séculos.

A descoberta foi apresentada pelos geólogos Kenneth Verosub e Jake Lippman em um trabalho publicado na última edição da revista "EOS", da União Geofísica dos EUA. Depois de passar três anos fazendo trabalho de historiadores, a dupla conseguiu descobrir uma série de eventos datados de 1601 nos EUA, na Europa e na Ásia que provavelmente estão ligados ao resfriamento global causado pelo vulcão peruano.

"Na Rússia, o inverno de 1601/1602 foi severo, e acredita-se que mais de 500 mil pessoas tenham morrido entre 1601 e 1603 naquela que foi considerada a pior onda de fome na história russa", escrevem os geólogos. "Na França, a data de início da colheita dos vinhedos em 1601 está entre as sete mais atrasadas no período entre 1500 e 1700."

Diversas outras anomalias causadas pelo frio fora do comum -como nevascas recorde e vento excessivo- foram registradas no mundo inteiro naquele ano também na Suécia, no Japão, nas Filipinas, na Suíça, na China, no Japão, na Estônia e na Lituânia. Os geólogos americanos afirmam que a descoberta foi uma espécie de "ato de fé", já que poucos especialistas em clima esperavam que se pudesse obter tantos dados sobre a época estudada. Os geólogos-historiadores, porém, sabiam que não era bem assim.

"Em 1600, a Renascença havia transformado a sociedade européia, e muitas pessoas na Europa estavam fazendo e registrando observações sobre o mundo ao seu redor, inclusive sobre o tempo e o clima", escrevem Verosub e Lippman. "No Japão e na China, sistemas imperiais vigentes fortemente burocráticos vigentes produziram numerosos registros escritos."

Aquecimento global

Os geólogos americanos começaram a estudar a erupção do Huaynaputina para compará-la à outro registro recorde: a explosão do vulcão Tambora em 1815, na Indonésia, que era mais bem documentada, que também revela muito sobre o quanto um vulcão pode causar anomalias climáticas.

Verosub e Lippman afirmam, por exemplo, que o inverno rigoroso na Rússia de 1601 normalmente é atribuído à chamada Pequena Era do Gelo, uma tendência longa de resfriamento registrada na Idade Média. Provavelmente é um erro, e o culpado foi mesmo a erupção do vulcão peruano, dizem.

Os geólogos americanos também afirmam que outra contribuição de seu trabalho é mostrar como o estudo de médias climáticas em um passado distante pode conter ruído -informação que atrapalha a medida de tendências.

"O problema se torna especialmente severo quando o objetivo da pesquisa é demonstrar mudança climática no longo prazo (ou seja, o "aquecimento global antropogênico" [causado pelo homem])", afirmam os pesquisadores.

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