domingo, junho 01, 2008

D. João VI no Correio Braziliense


Arte de Kleber Sales sobre retrato de Jacques-Louis David
O Correio Braziliense é o jornal mais importante de Brasília e veio com uma série de matérias comemorativas dos seus 200 anos... ou dos 200 anos do primeiro jornal do brasil, chamado de Correio Braziliense. Vou estar postando toda a série aqui. Esta é a segunda.

Há 200 anos
Espanha resiste a Napoleão


Da redação

Vamos morrer matando” — é o grito que ecoa na Espanha. E essas três palavras podem ser traduzidas como o grande problema para Napoleão Bonaparte. O imperador da França começa a enfrentar um duro obstáculo para a conquista de mais um país europeu. Em várias cidades espanholas, homens e mulheres de todas as classes vão às ruas armados com escopetas, facões e navalhas para lutar contra as tropas francesas. “Todos os grandes acontecimentos estão por um fio. Mas o homem inteligente tira vantagens de tudo”, costuma dizer Napoleão. E ele está a ponto de comprovar a própria teoria.

O ataque começou em fevereiro, quando as tropas napoleônicas se apoderaram da fortaleza de Pamplona sem encontrar resistência. Depois foi a vez de Barcelona, San Sebastián e, logo, Madri. Na capital, diante da inferioridade em forças militares, o povo espanhol saiu às ruas para lutar, em 2 de maio. Do lado francês, a tropa obedecia ao lema de guerra do imperador: “Soldados, sejam valentes e decididos”. A batalha foi sangrenta, com saldo de 450 espanhóis e 150 franceses mortos.

Na Galícia (norte da Espanha), a população levantou armas. De Lugo e Santiago de Compostela, túmulo do apóstolo Tiago, chegam notícias de saque de relíquias pelos invasores. Em Zaragoza, uma das principais cidades do nordeste, o sentimento de luta foi resumido pelo general José Palafox y Melzi, que comanda a resistência. “Estou disposto a defender minha cidade até as últimas conseqüências”, declarou. Em Valência, 3.732 pessoas formaram o corpo dos Caçadores Voluntários, comandado pelo general José Caro. A tática espanhola começa a confundir os franceses. Para compensar o fato de terem poucas armas, eles surgem de colinas e cavernas e depois desaparecem nos esconderijos. Os ataques de surpresa são chamados pelos espanhóis de guerrilla (guerrilha).

Ajuda

Depois da comoção popular que tomou conta da Espanha, as autoridades resolveram reagir. O governo da província de Astúrias declarou oficialmente guerra a Napoleão. Uma delegação presidida pelo visconde de Matarosa, don Andrés de la Vega, embarcou em navio rumo à Inglaterra para pedir ajuda militar ao principal inimigo da França. A previsão é de que a guerra se estenda. Nem Napoleão nem os espanhóis devem desistir.

“Eu trato a política como guerra. Engano um flanco para bater no outro”, teoriza Napoleão. E foi exatamente o que fez com a Espanha. No ano passado, o imperador declarou guerra a Portugal por se recusar a aderir ao bloqueio continental contra a Inglaterra. Para lutar contra os portugueses, pediu ao rei Carlos IV que permitisse a passagem das tropas francesas por solo espanhol. Bonaparte aproveitou a oportunidade, mandou mais soldados à Espanha e, ao perceber a fraqueza do inimigo, decidiu ocupar o país.

A família real foi levada pelos franceses para Bayona, no noroeste, primeiro na Europa a ter notícias da descoberta da América. O novo rei, Fernandino, foi obrigado a abdicar do trono. Seu pai Carlos IV, havia entregado o reino a Napoleão no começo do mês passado. O imperador francês ainda não decidiu qual de seus fiéis escudeiros governará a Espanha.

Desde que se tornou imperador absoluto da França, há quatro anos, Napoleão Bonaparte coleciona inimigos na Europa. O principal é a Inglaterra, país que tentou invadir em 1805, por interesses marítimos. Ele domina parte da Itália, Áustria, Rússia e Prússia. Para controlar seu extenso império, Napoleão coloca familiares para governá-los. É provável que o mesmo aconteça na Espanha.

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