Estou postando como homenagem a um grande amigo que foi o primeiro professor cego concursado (*e talvez não-concursado*) do Colégio Militar e do Pedro II. Por sua trajetória d evida, ele merece aplausos e pode servir de exemplo para outros jovens com deficiências. Enfim, a matéria saiu no Jornal O Dia do Rio, pequena, mas cumpre sua função.
Uma lição para ser guardada por toda a vida
Professor cego com doutorado é admirado por seus alunos
Maria Luisa Barros
Rio - Duas vezes por semana, estudantes dos cursos de Turismo e História da Universidade Federal Rural, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, se reúnem à noite para assistir a uma aula que é uma lição de vida. Apesar do cansaço comum a quem trabalha o dia todo, ninguém falta. Sala lotada, olhares atentos e expressão de admiração: eles são alunos do professor doutor Vanderlei Vazelesk Ribeiro, 39 anos, que faz a chamada em braile.
A cegueira que o acompanha desde o berço não impediu que esse ex-ascensorista conquistasse a única vaga no concurso para a Rural, disputada por mais cinco candidatos, também com doutorado. Antes de entrar para a Rural como professor adjunto, Vanderlei passou em mais oito concursos públicos, competindo de igual para igual, já que não havia reserva de vaga para portadores de deficiência. Para ler dezenas de livros de mais de 400 páginas, teve a ajuda da esposa Helena Dias de Carvalho, que lia até de madrugada. “Ela foi e continua sendo muito importante na minha vida”, confidencia.
De origem humilde e ascendência polonesa, professor Vanderlei foi o primeiro da família a chegar a uma universidade. Os pais eram operários em Presidente Prudente, no Interior paulista, e trabalhavam num abatedouro. “Eu não enxergava, não tinha dom musical e nem habilidades manuais. Minha única saída era estudar”, conta. Sem dinheiro, a mãe enviou carta para o programa de rádio ‘A Turma da Maré Mansa’, que, sensibilizado com a história do menino, conseguiu uma vaga no Instituto Benjamin Constant, para cegos, no Rio.
VITÓRIA SOBRE AS DIFICULTADES
Para ajudar a pagar os estudos, Vanderlei, que veio morar sozinho no Rio aos 13 anos, trabalhava como ascensorista no Hospital Souza Aguiar, no Centro. “Eu memorizava os botões de cada andar e ia contando as pessoas que entravam pelo vulto que conseguia distinguir. Assim eu limitava a entrada no elevador”, recorda-se. Há 10 anos, concluiu a graduação em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde também fez o mestrado. Em 2006, fez o doutorado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), que rendeu livro sobre questão agrária publicado na Argentina.
O preconceito sempre foi uma sombra no caminho do professor. Certa vez, dando aulas no Colégio Militar, um aluno da 6ª série fez o desenho do órgão genital masculino no jaleco de dar aulas. “Fiquei mal uns dois dias, mas os outros estudantes foram solidários comigo”, conta.
Vanderlei tem que ser esperto para evitar as colas. “Os alunos tentam me enrolar o tempo todo. Minha obrigação é criar meios para não ser enrolado”, diz. Quando aplica provas, pede a presença de um funcionário.
Professor cego com doutorado é admirado por seus alunos
Maria Luisa Barros
Rio - Duas vezes por semana, estudantes dos cursos de Turismo e História da Universidade Federal Rural, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, se reúnem à noite para assistir a uma aula que é uma lição de vida. Apesar do cansaço comum a quem trabalha o dia todo, ninguém falta. Sala lotada, olhares atentos e expressão de admiração: eles são alunos do professor doutor Vanderlei Vazelesk Ribeiro, 39 anos, que faz a chamada em braile.
A cegueira que o acompanha desde o berço não impediu que esse ex-ascensorista conquistasse a única vaga no concurso para a Rural, disputada por mais cinco candidatos, também com doutorado. Antes de entrar para a Rural como professor adjunto, Vanderlei passou em mais oito concursos públicos, competindo de igual para igual, já que não havia reserva de vaga para portadores de deficiência. Para ler dezenas de livros de mais de 400 páginas, teve a ajuda da esposa Helena Dias de Carvalho, que lia até de madrugada. “Ela foi e continua sendo muito importante na minha vida”, confidencia.
De origem humilde e ascendência polonesa, professor Vanderlei foi o primeiro da família a chegar a uma universidade. Os pais eram operários em Presidente Prudente, no Interior paulista, e trabalhavam num abatedouro. “Eu não enxergava, não tinha dom musical e nem habilidades manuais. Minha única saída era estudar”, conta. Sem dinheiro, a mãe enviou carta para o programa de rádio ‘A Turma da Maré Mansa’, que, sensibilizado com a história do menino, conseguiu uma vaga no Instituto Benjamin Constant, para cegos, no Rio.
VITÓRIA SOBRE AS DIFICULTADES
Para ajudar a pagar os estudos, Vanderlei, que veio morar sozinho no Rio aos 13 anos, trabalhava como ascensorista no Hospital Souza Aguiar, no Centro. “Eu memorizava os botões de cada andar e ia contando as pessoas que entravam pelo vulto que conseguia distinguir. Assim eu limitava a entrada no elevador”, recorda-se. Há 10 anos, concluiu a graduação em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde também fez o mestrado. Em 2006, fez o doutorado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), que rendeu livro sobre questão agrária publicado na Argentina.
O preconceito sempre foi uma sombra no caminho do professor. Certa vez, dando aulas no Colégio Militar, um aluno da 6ª série fez o desenho do órgão genital masculino no jaleco de dar aulas. “Fiquei mal uns dois dias, mas os outros estudantes foram solidários comigo”, conta.
Vanderlei tem que ser esperto para evitar as colas. “Os alunos tentam me enrolar o tempo todo. Minha obrigação é criar meios para não ser enrolado”, diz. Quando aplica provas, pede a presença de um funcionário.
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