Matéria sobre evolução humana na Folha de São Paulo.
Atlas genético da África mostra origem do homem
Estudo de 121 populações africanas sugere que todas descendem de 14 grupos
Varredura também indica que humanos modernos surgiram entre Angola e Namíbia há 200 mil anos e depois colonizaram o globo
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Levou uma década, mas uma equipe internacional de pesquisadores coletou amostras de material genético de 2.432 africanos de 113 populações (outras oito já haviam sido estudadas), muitas delas em locais de difícil acesso. O resultado é o mais completo atlas da diversidade genética no continente onde surgiu a humanidade.
O estudo confirma muito do que se sabe sobre migrações e distribuição de idiomas, embora traga algumas surpresas. Apesar de existirem mais de 2.000 grupos etnolingüísticos diferentes na África, representando um terço das línguas faladas na Terra, elas podem ser divididas em quatro grandes famílias. São a Níger-Cordofão (Sudão), Nilo-Saariana, Afro-asiática e Khoisan.
Mas, principalmente, a pesquisa é uma ferramenta com potencial de esclarecer os fatores de risco genéticos para várias doenças, além de servir para planejar ensaios clínicos mais representativos. Variação genética significa também diferenças na resistência a doenças como câncer, Aids ou malária.
Os cientistas compararam os padrões de variação de 1.327 trechos do código genético de 3.000 africanos. A pesquisa está publicada hoje no periódico científico "Science". Foram estudadas 121 populações africanas, 4 de afroamericanos e 60 de outras partes do mundo.
Apesar de hoje existirem grupos de caçadores-coletores espalhados pelo continente, a pesquisa mostrou que todos têm ancestrais comuns. De acordo com a coordenadora da pesquisa, Sarah Tishkoff, da Universidade da Pensilvânia, essa foi uma das maiores surpresas do estudo.
Estes grupos teriam uma população ancestral que começou a divergir 35 mil anos atrás.
Os dados indicam que os africanos de hoje têm origem em 14 grupos populacionais no passado. O ser humano moderno surgiu na África há 200 mil anos e migrou para o resto do globo nos últimos 100 mil anos.
Por estarem mais tempo em um continente, com populações de relativamente grandes tamanhos e adaptadas a diferentes nichos ecológicos, os africanos possuem uma maior variabilidade genética.
"Nosso objetivo era coletar DNA de uma gama significativa de populações etnicamente e geograficamente variadas na África para que pudéssemos estudar a variação genética para beneficiar os africanos, ao permitir que eles conheçam a história da suas populações e servir de base para pesquisa biomédica", afirmou Tishkoff em entrevista coletiva.
A dificuldade de acesso e de preservação do material era um dos motivos pelos quais a África era pouco representada nos estudos genéticos. "Muitas vezes pode ser um desafio conseguir amostras de DNA de pessoas vivendo em lugares geograficamente remotos e às vezes perigosos", disse Tishkoff.
A pesquisa envolveu muitas vezes viagens de vários dias em veículos com tração 4 X 4. "Tínhamos de trazer todo nosso equipamento, incluindo centrífugas portáteis que precisávamos ligar na bateria do carro, pois freqüentemente não havia eletricidade", disse ela.
Os dados da variação genética confirmam ainda que o "berço" da espécie humana está no sul do continente. A análise indicou também que a migração do homem moderno se originou no sudoeste africano, perto da fronteira na costa entre Namíbia e Angola.
Já o local de "saída" da África teria sido próximo do centro do mar Vermelho.
"A história de todo mundo é parte da história africana, porque todos vieram da África", disse outro autor do estudo, Muntaser Ibrahim, da Universidade de Cartum, Sudão.
Atlas genético da África mostra origem do homem
Estudo de 121 populações africanas sugere que todas descendem de 14 grupos
Varredura também indica que humanos modernos surgiram entre Angola e Namíbia há 200 mil anos e depois colonizaram o globo
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Levou uma década, mas uma equipe internacional de pesquisadores coletou amostras de material genético de 2.432 africanos de 113 populações (outras oito já haviam sido estudadas), muitas delas em locais de difícil acesso. O resultado é o mais completo atlas da diversidade genética no continente onde surgiu a humanidade.
O estudo confirma muito do que se sabe sobre migrações e distribuição de idiomas, embora traga algumas surpresas. Apesar de existirem mais de 2.000 grupos etnolingüísticos diferentes na África, representando um terço das línguas faladas na Terra, elas podem ser divididas em quatro grandes famílias. São a Níger-Cordofão (Sudão), Nilo-Saariana, Afro-asiática e Khoisan.
Mas, principalmente, a pesquisa é uma ferramenta com potencial de esclarecer os fatores de risco genéticos para várias doenças, além de servir para planejar ensaios clínicos mais representativos. Variação genética significa também diferenças na resistência a doenças como câncer, Aids ou malária.
Os cientistas compararam os padrões de variação de 1.327 trechos do código genético de 3.000 africanos. A pesquisa está publicada hoje no periódico científico "Science". Foram estudadas 121 populações africanas, 4 de afroamericanos e 60 de outras partes do mundo.
Apesar de hoje existirem grupos de caçadores-coletores espalhados pelo continente, a pesquisa mostrou que todos têm ancestrais comuns. De acordo com a coordenadora da pesquisa, Sarah Tishkoff, da Universidade da Pensilvânia, essa foi uma das maiores surpresas do estudo.
Estes grupos teriam uma população ancestral que começou a divergir 35 mil anos atrás.
Os dados indicam que os africanos de hoje têm origem em 14 grupos populacionais no passado. O ser humano moderno surgiu na África há 200 mil anos e migrou para o resto do globo nos últimos 100 mil anos.
Por estarem mais tempo em um continente, com populações de relativamente grandes tamanhos e adaptadas a diferentes nichos ecológicos, os africanos possuem uma maior variabilidade genética.
"Nosso objetivo era coletar DNA de uma gama significativa de populações etnicamente e geograficamente variadas na África para que pudéssemos estudar a variação genética para beneficiar os africanos, ao permitir que eles conheçam a história da suas populações e servir de base para pesquisa biomédica", afirmou Tishkoff em entrevista coletiva.
A dificuldade de acesso e de preservação do material era um dos motivos pelos quais a África era pouco representada nos estudos genéticos. "Muitas vezes pode ser um desafio conseguir amostras de DNA de pessoas vivendo em lugares geograficamente remotos e às vezes perigosos", disse Tishkoff.
A pesquisa envolveu muitas vezes viagens de vários dias em veículos com tração 4 X 4. "Tínhamos de trazer todo nosso equipamento, incluindo centrífugas portáteis que precisávamos ligar na bateria do carro, pois freqüentemente não havia eletricidade", disse ela.
Os dados da variação genética confirmam ainda que o "berço" da espécie humana está no sul do continente. A análise indicou também que a migração do homem moderno se originou no sudoeste africano, perto da fronteira na costa entre Namíbia e Angola.
Já o local de "saída" da África teria sido próximo do centro do mar Vermelho.
"A história de todo mundo é parte da história africana, porque todos vieram da África", disse outro autor do estudo, Muntaser Ibrahim, da Universidade de Cartum, Sudão.
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