Resenha da minissérie Napoleão do Correio Braziliense. :)
DVD - A trajetória de Bonaparte
Ricardo Daehn
Sem caracterização marcante no cinema contemporâneo, Napoleão Bonaparte (interpretado, antes, por atores como Marlon Brando e Rod Steiger) teve, há seis anos, uma representação mais precisa em minissérie com qualidade suntuosa: nove países serviram de locação para o produto de US$ 50 milhões (o mais caro do segmento, em 2002) que mobilizou 150 atores e 20 mil figurantes. Inédita no mercado de DVD, a produção, chancelada pelo canal a cabo A&E e candidata a sete prêmios Emmy, sai pela Versátil Home Video na versão em francês (foi rodada simultaneamente em inglês). À frente do projeto, o diretor canadense Yves Simoneau continua a trilhar rastro histórico que já rendeu a atualização de O julgamento de Nuremberg; o exame da vida de Maria Antonieta (em série) e críticas ao tratamento reservado a índios em Enterrem meu coração na curva do rio.
Organizado em quatro capítulos, em ordem cronológica, Napoleão se desenvolve em mais de seis horas, com o personagem-título aos 26 anos. Como em qualquer obra que mexa com mitos, haverá quem reclame de omissões ou de alguma superficialidade no retrato de ações militares. Por opção, Simoneau buscou enfoque que favorece a parcela humana da figura, mas nunca dispensando fatos extraídos do best-seller de Max Gallo, adaptado por Didier Decoin (roteirista de O Conde de Monte Cristo, Os miseráveis e Balzac). Mais conhecido por composições cômicas, Christian Clavier (o Astérix do cinema) encara a personagem com transformações sutis, desde a postura de artilheiro — na qual confirma a vocação de estrategista e defende a República como categórico instrumento de “harmonia” — até a centralização dissimulada de poder e o alcance do status de imperador com alta popularidade, passado o desastroso reinado de Luís XVIII (desautorizado por ele).
Num primeiro momento da série, Napoleão, em 1818, está exilado na Ilha de Santa Helena (no Atlântico Sul), governada pelo britânico Hudson Lowe, acuado e tendo como confidente a jovem Betsy Balcombe. Nesse ponto, há súbita intromissão do passado de conquistas que será desfilado, com atenção para a perigosa relação estabelecida com a Rússia, a sensação da primeira saudação coletiva pelo povo e o uso de frases de efeito (“O Exército sou eu”, “Poder não é senão aparência” e “Declaro paz ao mundo”), além do grotesco trato com os reis espanhóis Carlos IV e Fernando VII, isso tudo ao lado das sucessivas conseqüências da derrota na belga Waterloo.
Artifício bem controlado pelo cineasta, que evita a carga de novelão, a exposição de dados familiares revigora a trama, que não se limita aos feitos da política expansionista de Napoleão. O contraponto dá boas chances para as presenças de Isabella Rossellini e Anouk Aimée. Ainda que invista nos casos adúlteros com as belas Marie Walewska (condessa da Polônia) e Marie Louise, a minissérie consegue delimitar bem o cenário político, repleto de confabulações palacianas.
Cercado de raposas, como o ministro Joseph Fouché (interpretado por Gérard Depardieu, coprodutor da obra) e o ardiloso diplomata Charles Talleyrand (John Malkovich, sorrateiro ao extremo e candidato ao Emmy de melhor coadjuvante), o Napoleão de Christian Clavier não se exalta, como esperado, nessa versão de Yves Simoneau atenta ao impacto da “altivez sufocada” ainda nos tempos escolares do soberano. Morto aos 52 anos, Bonaparte, na série, recebe retrato digno, com momentos grandiosos, alguns aptos a revelações na evolução de táticas de guerra e outros célebres, como o da autocoroação (tendo o Papa na platéia).
NAPOLEÃO
(Napoléon, França, 2002, 377min). Caixa com dois DVDs da minissérie de Yves Simoneau. Com Christian Clavier, Isabella Rossellini, Anouk Aimée, John Malkovich e Julian Sands. Preço sugerido: R$ 75. Não recomendado para menores de 14 anos.
DVD - A trajetória de Bonaparte
Ricardo Daehn
Sem caracterização marcante no cinema contemporâneo, Napoleão Bonaparte (interpretado, antes, por atores como Marlon Brando e Rod Steiger) teve, há seis anos, uma representação mais precisa em minissérie com qualidade suntuosa: nove países serviram de locação para o produto de US$ 50 milhões (o mais caro do segmento, em 2002) que mobilizou 150 atores e 20 mil figurantes. Inédita no mercado de DVD, a produção, chancelada pelo canal a cabo A&E e candidata a sete prêmios Emmy, sai pela Versátil Home Video na versão em francês (foi rodada simultaneamente em inglês). À frente do projeto, o diretor canadense Yves Simoneau continua a trilhar rastro histórico que já rendeu a atualização de O julgamento de Nuremberg; o exame da vida de Maria Antonieta (em série) e críticas ao tratamento reservado a índios em Enterrem meu coração na curva do rio.
Organizado em quatro capítulos, em ordem cronológica, Napoleão se desenvolve em mais de seis horas, com o personagem-título aos 26 anos. Como em qualquer obra que mexa com mitos, haverá quem reclame de omissões ou de alguma superficialidade no retrato de ações militares. Por opção, Simoneau buscou enfoque que favorece a parcela humana da figura, mas nunca dispensando fatos extraídos do best-seller de Max Gallo, adaptado por Didier Decoin (roteirista de O Conde de Monte Cristo, Os miseráveis e Balzac). Mais conhecido por composições cômicas, Christian Clavier (o Astérix do cinema) encara a personagem com transformações sutis, desde a postura de artilheiro — na qual confirma a vocação de estrategista e defende a República como categórico instrumento de “harmonia” — até a centralização dissimulada de poder e o alcance do status de imperador com alta popularidade, passado o desastroso reinado de Luís XVIII (desautorizado por ele).
Num primeiro momento da série, Napoleão, em 1818, está exilado na Ilha de Santa Helena (no Atlântico Sul), governada pelo britânico Hudson Lowe, acuado e tendo como confidente a jovem Betsy Balcombe. Nesse ponto, há súbita intromissão do passado de conquistas que será desfilado, com atenção para a perigosa relação estabelecida com a Rússia, a sensação da primeira saudação coletiva pelo povo e o uso de frases de efeito (“O Exército sou eu”, “Poder não é senão aparência” e “Declaro paz ao mundo”), além do grotesco trato com os reis espanhóis Carlos IV e Fernando VII, isso tudo ao lado das sucessivas conseqüências da derrota na belga Waterloo.
Artifício bem controlado pelo cineasta, que evita a carga de novelão, a exposição de dados familiares revigora a trama, que não se limita aos feitos da política expansionista de Napoleão. O contraponto dá boas chances para as presenças de Isabella Rossellini e Anouk Aimée. Ainda que invista nos casos adúlteros com as belas Marie Walewska (condessa da Polônia) e Marie Louise, a minissérie consegue delimitar bem o cenário político, repleto de confabulações palacianas.
Cercado de raposas, como o ministro Joseph Fouché (interpretado por Gérard Depardieu, coprodutor da obra) e o ardiloso diplomata Charles Talleyrand (John Malkovich, sorrateiro ao extremo e candidato ao Emmy de melhor coadjuvante), o Napoleão de Christian Clavier não se exalta, como esperado, nessa versão de Yves Simoneau atenta ao impacto da “altivez sufocada” ainda nos tempos escolares do soberano. Morto aos 52 anos, Bonaparte, na série, recebe retrato digno, com momentos grandiosos, alguns aptos a revelações na evolução de táticas de guerra e outros célebres, como o da autocoroação (tendo o Papa na platéia).
NAPOLEÃO
(Napoléon, França, 2002, 377min). Caixa com dois DVDs da minissérie de Yves Simoneau. Com Christian Clavier, Isabella Rossellini, Anouk Aimée, John Malkovich e Julian Sands. Preço sugerido: R$ 75. Não recomendado para menores de 14 anos.
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