Laurentino Gomes, autor de 1808 e 1822, foi entrevistado pelo Jô Soares no dia 8 de outubro. Muito interessante a conversa, eu nem sempre gosto das entrevistas que o Jô Soares faz, mas esta rendeu bem. E o Jô ainda fez uma excelente análise da Revolução Cubana. Vale assisir.
Slides, Resumos, Curiosidades, Charges, Orientações e tudo o mais que for necessário. Página de apoio para os alunos e alunas do Colégio Militar de Brasília do 8º ano ao final do Ensino Médio.
sábado, outubro 16, 2010
Com higiene precária, navios não eram para narizes delicados
A travessia para o Brasil era precária e suja. Bem, isso todo mundo que lê sobre História das Navegações já sabia, mas não custa nada, como sempre, recordar. A matéria saiu na Folha de São Paulo.
Isolado e imundo
Hábito de jogar excrementos pela janela e ausência de médicos faziam do Brasil Colônia grande foco de epidemias, mostra novo livro
RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO
Não raro, no Rio de Janeiro, em Salvador ou em qualquer outro núcleo urbano brasileiro colonial, um pedestre era "abatido" por excrementos humanos voadores enquanto seguia pela rua. Não havia esgoto, e o hábito era jogar o resíduo pela janela mesmo. As ruas, claro, não ficavam exatamente limpas, e se tornavam bastante insalubres. Não tendo o país nenhuma faculdade de medicina, doenças contagiosas chegavam e ficavam sem enfrentar grande resistência.
Mesmo em 1799, já muito perto do fim da colônia e da chegada da família real portuguesa em fuga para o Brasil, o país, com cerca de 3 milhões de habitantes, não tinha mais de 12 médicos formados -todos importados. Em Portugal (como no resto da Europa) também existia o hábito pouco higiênico de defenestrar fezes humanas, mas por lá, pelo menos, a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra já formava gente desde 1290 -outros países europeus também já tinham escolas médicas.
No caso brasileiro, a única solução era improvisar.
"No Brasil Colônia, então, formou-se uma pequena multidão de curandeiros, benzedeiras e rezadores que tentavam suprir a absoluta carência de profissionais habilitados", diz Cristina Gurgel, médica da PUC de Campinas que é especialista em história da saúde. Ela está lançando o livro "Doenças e curas: o Brasil nos primeiros séculos", pela editora Contexto. Nele, ela lista doenças que se propagavam com facilidade na época, como varíola, hanseníase, malária e sarampo, além de constantes disenterias. Por isso, a expectativa de vida dificilmente passava dos 30 anos. Crianças também eram vítimas fáceis: no século 17, por exemplo, apenas uma em cada três crianças nascidas no Nordeste conseguia sobreviver. Até existiam alguns hospitais, como as Santas Casas, mas eles eram mantidos muito mais pelos religiosos do que por médicos.
CURA PELA PÓLVORA
Mesmo quando o paciente tinha sorte e principalmente dinheiro para conseguir assistência profissional, sua situação não era das melhores - os médicos também não sabiam muito bem o que estavam fazendo. O médico português João Ferreira Rosa, por exemplo, chegou ao Recife em 1690 e, do alto do seu reconhecimento como um dos poucos profissionais de saúde no país, recomendou, entre outras coisas, a expulsão das prostitutas -elas ofendiam a Deus, que poderia querer se vingar.
Os remédios daquela época, aliás, frequentemente envolviam ingredientes como fumo, fezes de cavalo, aguardente e, está documentado, pólvora - imagine o alvoroço que isso tudo não causava no organismo do vivente, acabando por fazer muito mais mal do que bem. Ou seja, mesmo com a chegada da Corte ao país em 1808 e a criação de duas faculdades de medicina por aqui (uma em Salvador e outra no Rio), a saúde pública no país não melhorou muito. A própria expectativa de vida só viria a subir significativamente no século 20 - ontem, em termos históricos.
Com higiene precária, navios não eram para narizes delicados
DE SÃO PAULO
Se a saúde das pessoas em terra já era ruim, nos navios dos séculos 16 e 17 ela era ainda mais assustadora. Esse era um dos motivos do isolamento do Brasil durante o período colonial: atravessar o Atlântico era uma aventura que poucos tinham coragem de encarar. Por um lado, ao menos os excrementos humanos eram atirados ao mar e não na rua. Mas tanto a água quanto a comida, guardadas por meses em porões úmidos e sujos, eram invariavelmente ruins e contaminadas. Além disso, a higiene a bordo era precária. "Não por acaso, dizia-se que as viagens marítimas não eram para donos de narizes delicados", afirma Cristina Gurgel.
Não existia estrutura para que os viajantes tomassem banho - e não se sabe se eles estavam muito preocupados com isso, de qualquer forma. O padrão era usar a mesma roupa durante todo o percurso, que durava meses. "Quando possível, todos se perfumavam e incensavam o ambiente, na tentativa de controlar o mau cheiro emanado dos corpos e da sujeira", diz Gurgel. Surgiam, assim, pragas de piolhos, percevejos e pulgas. Pratos, copos e talheres não eram lavados. Doenças como varíola, difteria, escarlatina e tuberculose se propagavam sem controle.
Não bastassem os problemas de saúde que se espalhavam pelos navios, com frequência a comida acabava. E, mesmo antes disso acontecer, ela era bastante regulada: a ração diária de alimentos secos de um tripulante em uma expedição como as de Vasco da Gama ou de Cabral era de meros 400 gramas ao dia. Em casos extremos, até os ratos que infestavam as embarcações viravam comida.
"A gente tem uma visão bastante romanceada das navegações. Pensamos "que lindo, que heróis, que viagem ao desconhecido!" Não era bem assim", diz Gurgel. "Morria tanta gente que surgiram até as lendas dos navios fantasmas, em que tanta gente foi morrendo que não sobrou ninguém." Mesmo em viagens que tiveram sucesso, muita gente morreu. Na de Vasco da Gama às Índias, morreram 120 de um total de 160 marujos, por exemplo. Gurgel ressalta, porém, que isso não era exclusividade dos portugueses. Navios britânicos ou holandeses, por exemplo, tinham situação parecida. (RM)
Hábito de jogar excrementos pela janela e ausência de médicos faziam do Brasil Colônia grande foco de epidemias, mostra novo livro
RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO
Não raro, no Rio de Janeiro, em Salvador ou em qualquer outro núcleo urbano brasileiro colonial, um pedestre era "abatido" por excrementos humanos voadores enquanto seguia pela rua. Não havia esgoto, e o hábito era jogar o resíduo pela janela mesmo. As ruas, claro, não ficavam exatamente limpas, e se tornavam bastante insalubres. Não tendo o país nenhuma faculdade de medicina, doenças contagiosas chegavam e ficavam sem enfrentar grande resistência.
Mesmo em 1799, já muito perto do fim da colônia e da chegada da família real portuguesa em fuga para o Brasil, o país, com cerca de 3 milhões de habitantes, não tinha mais de 12 médicos formados -todos importados. Em Portugal (como no resto da Europa) também existia o hábito pouco higiênico de defenestrar fezes humanas, mas por lá, pelo menos, a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra já formava gente desde 1290 -outros países europeus também já tinham escolas médicas.
No caso brasileiro, a única solução era improvisar.
"No Brasil Colônia, então, formou-se uma pequena multidão de curandeiros, benzedeiras e rezadores que tentavam suprir a absoluta carência de profissionais habilitados", diz Cristina Gurgel, médica da PUC de Campinas que é especialista em história da saúde. Ela está lançando o livro "Doenças e curas: o Brasil nos primeiros séculos", pela editora Contexto. Nele, ela lista doenças que se propagavam com facilidade na época, como varíola, hanseníase, malária e sarampo, além de constantes disenterias. Por isso, a expectativa de vida dificilmente passava dos 30 anos. Crianças também eram vítimas fáceis: no século 17, por exemplo, apenas uma em cada três crianças nascidas no Nordeste conseguia sobreviver. Até existiam alguns hospitais, como as Santas Casas, mas eles eram mantidos muito mais pelos religiosos do que por médicos.
CURA PELA PÓLVORA
Mesmo quando o paciente tinha sorte e principalmente dinheiro para conseguir assistência profissional, sua situação não era das melhores - os médicos também não sabiam muito bem o que estavam fazendo. O médico português João Ferreira Rosa, por exemplo, chegou ao Recife em 1690 e, do alto do seu reconhecimento como um dos poucos profissionais de saúde no país, recomendou, entre outras coisas, a expulsão das prostitutas -elas ofendiam a Deus, que poderia querer se vingar.
Os remédios daquela época, aliás, frequentemente envolviam ingredientes como fumo, fezes de cavalo, aguardente e, está documentado, pólvora - imagine o alvoroço que isso tudo não causava no organismo do vivente, acabando por fazer muito mais mal do que bem. Ou seja, mesmo com a chegada da Corte ao país em 1808 e a criação de duas faculdades de medicina por aqui (uma em Salvador e outra no Rio), a saúde pública no país não melhorou muito. A própria expectativa de vida só viria a subir significativamente no século 20 - ontem, em termos históricos.
Com higiene precária, navios não eram para narizes delicados
DE SÃO PAULO
Se a saúde das pessoas em terra já era ruim, nos navios dos séculos 16 e 17 ela era ainda mais assustadora. Esse era um dos motivos do isolamento do Brasil durante o período colonial: atravessar o Atlântico era uma aventura que poucos tinham coragem de encarar. Por um lado, ao menos os excrementos humanos eram atirados ao mar e não na rua. Mas tanto a água quanto a comida, guardadas por meses em porões úmidos e sujos, eram invariavelmente ruins e contaminadas. Além disso, a higiene a bordo era precária. "Não por acaso, dizia-se que as viagens marítimas não eram para donos de narizes delicados", afirma Cristina Gurgel.
Não existia estrutura para que os viajantes tomassem banho - e não se sabe se eles estavam muito preocupados com isso, de qualquer forma. O padrão era usar a mesma roupa durante todo o percurso, que durava meses. "Quando possível, todos se perfumavam e incensavam o ambiente, na tentativa de controlar o mau cheiro emanado dos corpos e da sujeira", diz Gurgel. Surgiam, assim, pragas de piolhos, percevejos e pulgas. Pratos, copos e talheres não eram lavados. Doenças como varíola, difteria, escarlatina e tuberculose se propagavam sem controle.
Não bastassem os problemas de saúde que se espalhavam pelos navios, com frequência a comida acabava. E, mesmo antes disso acontecer, ela era bastante regulada: a ração diária de alimentos secos de um tripulante em uma expedição como as de Vasco da Gama ou de Cabral era de meros 400 gramas ao dia. Em casos extremos, até os ratos que infestavam as embarcações viravam comida.
"A gente tem uma visão bastante romanceada das navegações. Pensamos "que lindo, que heróis, que viagem ao desconhecido!" Não era bem assim", diz Gurgel. "Morria tanta gente que surgiram até as lendas dos navios fantasmas, em que tanta gente foi morrendo que não sobrou ninguém." Mesmo em viagens que tiveram sucesso, muita gente morreu. Na de Vasco da Gama às Índias, morreram 120 de um total de 160 marujos, por exemplo. Gurgel ressalta, porém, que isso não era exclusividade dos portugueses. Navios britânicos ou holandeses, por exemplo, tinham situação parecida. (RM)
sexta-feira, outubro 15, 2010
Falando de Cinema no Dia dos Professores
Há três filmes de que sempre lembro no dia dos professores. Não, não... Não é nem Sociedade dos Poetas Mortos, um filme que eu adoro, mas que é filme para aluno, não para professor. Chorei muito com ele na adolescência, hoje, já não consigo.. Afinal, o que acontece depois que os sujeitos sobem na mesa? Eles rompem? Eles se submetem? O professor é somente uma ferramenta, não é o centro da coisa, o centro são os alunos. Também não é o excelente, Ao Mestre com Carinho, porque é quase o mesmo, só que com garotos e garotas pobres (*e um Sidney Poitier lindo*). Eu quero lembrar hoje de filmes que me falam como professora: O Clube do Imperador, A Primavera de uma Solteirona e o depressivo Nunca Te Amei.
O primeiro, O Clube do Imperador (The Emperor’s Club), tem como professor, e de História, ou de História da Civilização Ocidental, como é bem colocado, o excelente Kevin Kline. As aulas dele são decoreba pura, definitivamente, não é o tipo de aula de História que te daria aprovação em um curso de prática de ensino de História... não na UFRJ quando eu me formei. Claro, mas ele é o sujeito que diz para os alunos que se eles não fizerem diferença no mundo que graça tem viver? “Grande ambição e conquista sem contribuição é algo sem significado. Qual será a sua contribuição? Como a História lembrará de vocês?” E ele tinha uma placa com uma inscrição na entrada da sala sobre um rei poderoso, mas hoje esquecido. O problema desse sujeito é que ele coloca na cabeça, como tantos de nós, e aí está a mensagem para os professores, de que ele está na sala de aula para salvar gente. Escolhe um garoto problema, mas em quem ele vê potencial, coloca na cabeça que o rapaz é um incompreendido, e mesmo quando ao pai do rapaz, um senador do mal, joga na cara dele que a função do professor não é “educar”, mas ensinar História, ele não se dá por vencido. E chega a burlar as regras para ajudar o seu aluno que parece responder ao esforço dele. PARECE! Prejudica incusive outro aluno, só que bonzinho, esforçado, mas tímido e sem brilho, porque, bem, ele não precisa de ajuda, ele já é um cara legal. OK! Mas eis que "a casa cai" e ele descobre que você só ajuda alguém, especialmente um adolescente ou um adulto, se ele também quiser ser ajudado. A decepção do professor é enorme, mas, ainda bem, o filme não termina ali. Temos um salto de quase vinte anos... Ah, assista o filme! ^_^
Infelizmente, a nossa formação profissional ainda está carregada daquele peso de sacerdócio: o professor ou professora é o salvador. E não importa se em escola de elite ou de periferia, você está lá para SALVAR seus alunos da sociedade, dos pais, ou deles mesmos! Isso te dá uma aura de herói ou santo, ajuda a esquecer o péssimo salário, o desrespeito, porque você tem uma missão. E na ânsia de salvar, pode fazer como a personagem de Kevin Kline, escolher o problemático que quer continuar assim, tratá-lo somente como vítima da sociedade e deixar de investir, sim, no bom aluno sem graça, tímido, talvez não tão brilhante. Pense em Morita e Takemoto de Honey & Clover e você vai entender. Eu aprendi uma lição com o Clube do Imperador e chorei pra caramba. Eu gosto mais dele do que de Sociedade dos Poetas Mortos. Muito mais mesmo!
O segundo filme, A Primavera de uma Solteirona (The Prime of Miss Jean Brodie), protagonizado pela magnífica Dame Maggie Smith, mais conhecida dos jovens por fazer outra professora Minerva McGonagall de Harry Potter. Ela levou o Oscar por este filme que se passa em Edimburgo, Escócia, em 1936. Miss Jean Brodie é uma professora de História cheia de vida, cheia de idéias, moderna, apaixonada por sua profissão, feminista e simpatizante do facismo. A diretora quer se livrar dela, mas Miss Brodie sempre escapa com tiradas fenomenais, suas frases ao longo do filme (*o livro eu ainda não terminei de ler*). são uma delícia. A única coisa que a diretora pode fazer é colocá-la dando aula para as meninas menores, assim, ela não poderia influenciar as adolescentes, essas, sim, criaturas susceptíveis. Eis o grande engano cometido até hoje, dar aula para crianças é algo muito sério, mas há quem ache que é um trabalho menor, que qualquer um pode fazer. Miss Brodie sabe disso que não é assim, ela exerce fascínio sobre as meninas e seleciona todos os anos um grupo de alunas que serão o créme-de-la-créme. E o que as meninas precisam fazer para serem escolhidas? A rigor nada, porque Miss Brodie é capaz de lhes enxergar a alma. E quem não é escolhida, bem, é porque ela não quis! A comparação entre Jean Brodie e Deus para o Calvinismo é perfeita! Muriel Spark, a autora, como ex-calvinista, entendia bem a coisa. Miss Brodie é terrível e, ao mesmo tempo fantástica, ela consegue enredar as meninas que se sentem felizes, conversa com elas como se fossem adultas, mas tenta manobrar as suas vidas. E, claro, vem a tragédia, pois uma das meninas morre, e Miss Brodie perde tudo, suas meninas, e seu emprego.
Eu não consigo não gostar dela, mas há tantos professores assim por aí, que usam do seu lugar para exercer influencia sobre os alunos e alunas. Eu tive um professor monarquista – só para ilustrar como minha vida é cheia de situações inusitadas, citar professor de esquerda é fácil, eu tive a minha cota de fascistas, também, sabe? – que em 1991 conseguiu convencer um monte de alunos da turma de que o Regime Monárquico era o mais perfeito, o ideal, e que a República só tinha trazido danos ao Brasil. Depois da proclamação da República seguimos com a família real para a Europa no exílio. Como ele era um sujeito com um discurso bem articulado, convenceu muita gente. Na 5ª série tive uma professora de Matemática que defendeu Hitler e o Holocausto em sala de aula, no 1º ano, minha professora de História, que era negra, era apaixonada por Mussolini. As duas, no entanto, não eram lá muito amadas por nós, daí, acho que o estrago foi muito pequeno. Eu nunca tive uma Miss Brodie como professora no ginásio, mas acho que se tivesse, cairia sob seu encanto, sem dúvida.
O último professor do dia é Nunca te Amei (The Browning Version) protagonizado por Albert Finney no papel do professor de grego e latim para a 5ª série Andrew Crocker-Harris. Nunca te Amei se passa em uma escola de elite tradicional, como os dois anteriores, na qual os meninos para estudarem ciências precisam vencer um ano de estudos clássicos. Os meninos odeiam o professor que é gentilmente chamado de “Hitler da 5ª série”. E ele é desagradável, os próprios colegas fingem que gostam dele, e a esposa o trai com o divertido professor de ciências, o adorável Mathew Modine. Tudo vai em tom muito depressivo até que Crocker-Harris descobre que será aposentado compulsoriamente, provavelmente sem direito à pensão, e substituído por um professor mais jovem, pois a escola vai reformar o currículo e tirar os clássicos para introduzir línguas modernas. É o fim de sua carreira e o desprezo que demonstram por ele é enorme. O professor tem uma última missão, dar a recuperação para um garoto, o tal Browning do título original, que parece ser, pasmem, o único aluno que gosta dele. E o menino gosta mesmo, admira a inteligência do professor, consegue até achar interessantes as aulas de recuperação em grego e escreve uma versão tipo Cavaleiros do Zodíaco para a peça Agamenon (*é o trabalho de recuperação*) que deixa o sisudo professor deslumbrado.
Só que o menino descobre que a mulher de Crocker-Harris o trai com o professor de ciências, que é o ídolo de todos. E a mulher do professor, que andava espantada com o bom humor do marido graças ao menino, descobre que ele descobriu. Daí, ela envenena o professor contra o aluno. E a depressão retorna. O discurso final, não encontrei o trailer no Youtube, mostra o professor jogando no ventilador toda a sua frustração, a dor de ter sido desprezado pelos colegas, mas pedindo perdão aos alunos, porque ele toma consciência de que ele nunca amou as aulas que deu, então, como os alunos poderiam amar? Como achar graça? Como estudar? Ser professor tinha sido um peso em sua vida e um estrago para gerações de meninos. É um belo e triste filme. Mas quanta gente está causando estrago na sala de aula? É infeliz e leva sua infelicidade para a vida de tantos meninos e meninas por aí, e tudo porque "professor sempre vai ter emprego" ou "qualquer um pode ser professor". Crocker-Harris é o professor que a gente não deseja ser. É isso, Nunca te Amei, a versão que assisti, não saiu ainda em DVD no Brasil, mas vale a pena.
Se ainda sobrar um espaço, peguem a epopéia da professora mais determinada de todos os tempos, O Milagre de Anne Sullivan (The Miracle Worker). Aqui, a professora é a heroína, a “fazedora de milagres” que trouxe para o mundo uma menina cega e surda, a jovem Hellen Keller. Este saiu recentemente em DVD no Brasil. Mas aviso logo que ser Anne Sullivan é para muito poucos. Com certeza, eu não conseguiria fazer o que ela fez. Ah, sim! E se você odeia seus professores e a escola, a sugestão é o libertador IF. Sucesso de público quando eu estava no 1º ano. Foi surpresa descobrir que mesmo sendo um filme alternativo e passando tarde da noite, muitos de meus colegas asssitiram. Mas, é isso! Feliz Dia das Professoras e dos Professores para vocês! Quem puder, contribua para o nosso Shoujocast especial.
O primeiro, O Clube do Imperador (The Emperor’s Club), tem como professor, e de História, ou de História da Civilização Ocidental, como é bem colocado, o excelente Kevin Kline. As aulas dele são decoreba pura, definitivamente, não é o tipo de aula de História que te daria aprovação em um curso de prática de ensino de História... não na UFRJ quando eu me formei. Claro, mas ele é o sujeito que diz para os alunos que se eles não fizerem diferença no mundo que graça tem viver? “Grande ambição e conquista sem contribuição é algo sem significado. Qual será a sua contribuição? Como a História lembrará de vocês?” E ele tinha uma placa com uma inscrição na entrada da sala sobre um rei poderoso, mas hoje esquecido. O problema desse sujeito é que ele coloca na cabeça, como tantos de nós, e aí está a mensagem para os professores, de que ele está na sala de aula para salvar gente. Escolhe um garoto problema, mas em quem ele vê potencial, coloca na cabeça que o rapaz é um incompreendido, e mesmo quando ao pai do rapaz, um senador do mal, joga na cara dele que a função do professor não é “educar”, mas ensinar História, ele não se dá por vencido. E chega a burlar as regras para ajudar o seu aluno que parece responder ao esforço dele. PARECE! Prejudica incusive outro aluno, só que bonzinho, esforçado, mas tímido e sem brilho, porque, bem, ele não precisa de ajuda, ele já é um cara legal. OK! Mas eis que "a casa cai" e ele descobre que você só ajuda alguém, especialmente um adolescente ou um adulto, se ele também quiser ser ajudado. A decepção do professor é enorme, mas, ainda bem, o filme não termina ali. Temos um salto de quase vinte anos... Ah, assista o filme! ^_^
Infelizmente, a nossa formação profissional ainda está carregada daquele peso de sacerdócio: o professor ou professora é o salvador. E não importa se em escola de elite ou de periferia, você está lá para SALVAR seus alunos da sociedade, dos pais, ou deles mesmos! Isso te dá uma aura de herói ou santo, ajuda a esquecer o péssimo salário, o desrespeito, porque você tem uma missão. E na ânsia de salvar, pode fazer como a personagem de Kevin Kline, escolher o problemático que quer continuar assim, tratá-lo somente como vítima da sociedade e deixar de investir, sim, no bom aluno sem graça, tímido, talvez não tão brilhante. Pense em Morita e Takemoto de Honey & Clover e você vai entender. Eu aprendi uma lição com o Clube do Imperador e chorei pra caramba. Eu gosto mais dele do que de Sociedade dos Poetas Mortos. Muito mais mesmo!
O segundo filme, A Primavera de uma Solteirona (The Prime of Miss Jean Brodie), protagonizado pela magnífica Dame Maggie Smith, mais conhecida dos jovens por fazer outra professora Minerva McGonagall de Harry Potter. Ela levou o Oscar por este filme que se passa em Edimburgo, Escócia, em 1936. Miss Jean Brodie é uma professora de História cheia de vida, cheia de idéias, moderna, apaixonada por sua profissão, feminista e simpatizante do facismo. A diretora quer se livrar dela, mas Miss Brodie sempre escapa com tiradas fenomenais, suas frases ao longo do filme (*o livro eu ainda não terminei de ler*). são uma delícia. A única coisa que a diretora pode fazer é colocá-la dando aula para as meninas menores, assim, ela não poderia influenciar as adolescentes, essas, sim, criaturas susceptíveis. Eis o grande engano cometido até hoje, dar aula para crianças é algo muito sério, mas há quem ache que é um trabalho menor, que qualquer um pode fazer. Miss Brodie sabe disso que não é assim, ela exerce fascínio sobre as meninas e seleciona todos os anos um grupo de alunas que serão o créme-de-la-créme. E o que as meninas precisam fazer para serem escolhidas? A rigor nada, porque Miss Brodie é capaz de lhes enxergar a alma. E quem não é escolhida, bem, é porque ela não quis! A comparação entre Jean Brodie e Deus para o Calvinismo é perfeita! Muriel Spark, a autora, como ex-calvinista, entendia bem a coisa. Miss Brodie é terrível e, ao mesmo tempo fantástica, ela consegue enredar as meninas que se sentem felizes, conversa com elas como se fossem adultas, mas tenta manobrar as suas vidas. E, claro, vem a tragédia, pois uma das meninas morre, e Miss Brodie perde tudo, suas meninas, e seu emprego.
Eu não consigo não gostar dela, mas há tantos professores assim por aí, que usam do seu lugar para exercer influencia sobre os alunos e alunas. Eu tive um professor monarquista – só para ilustrar como minha vida é cheia de situações inusitadas, citar professor de esquerda é fácil, eu tive a minha cota de fascistas, também, sabe? – que em 1991 conseguiu convencer um monte de alunos da turma de que o Regime Monárquico era o mais perfeito, o ideal, e que a República só tinha trazido danos ao Brasil. Depois da proclamação da República seguimos com a família real para a Europa no exílio. Como ele era um sujeito com um discurso bem articulado, convenceu muita gente. Na 5ª série tive uma professora de Matemática que defendeu Hitler e o Holocausto em sala de aula, no 1º ano, minha professora de História, que era negra, era apaixonada por Mussolini. As duas, no entanto, não eram lá muito amadas por nós, daí, acho que o estrago foi muito pequeno. Eu nunca tive uma Miss Brodie como professora no ginásio, mas acho que se tivesse, cairia sob seu encanto, sem dúvida.
O último professor do dia é Nunca te Amei (The Browning Version) protagonizado por Albert Finney no papel do professor de grego e latim para a 5ª série Andrew Crocker-Harris. Nunca te Amei se passa em uma escola de elite tradicional, como os dois anteriores, na qual os meninos para estudarem ciências precisam vencer um ano de estudos clássicos. Os meninos odeiam o professor que é gentilmente chamado de “Hitler da 5ª série”. E ele é desagradável, os próprios colegas fingem que gostam dele, e a esposa o trai com o divertido professor de ciências, o adorável Mathew Modine. Tudo vai em tom muito depressivo até que Crocker-Harris descobre que será aposentado compulsoriamente, provavelmente sem direito à pensão, e substituído por um professor mais jovem, pois a escola vai reformar o currículo e tirar os clássicos para introduzir línguas modernas. É o fim de sua carreira e o desprezo que demonstram por ele é enorme. O professor tem uma última missão, dar a recuperação para um garoto, o tal Browning do título original, que parece ser, pasmem, o único aluno que gosta dele. E o menino gosta mesmo, admira a inteligência do professor, consegue até achar interessantes as aulas de recuperação em grego e escreve uma versão tipo Cavaleiros do Zodíaco para a peça Agamenon (*é o trabalho de recuperação*) que deixa o sisudo professor deslumbrado.
Só que o menino descobre que a mulher de Crocker-Harris o trai com o professor de ciências, que é o ídolo de todos. E a mulher do professor, que andava espantada com o bom humor do marido graças ao menino, descobre que ele descobriu. Daí, ela envenena o professor contra o aluno. E a depressão retorna. O discurso final, não encontrei o trailer no Youtube, mostra o professor jogando no ventilador toda a sua frustração, a dor de ter sido desprezado pelos colegas, mas pedindo perdão aos alunos, porque ele toma consciência de que ele nunca amou as aulas que deu, então, como os alunos poderiam amar? Como achar graça? Como estudar? Ser professor tinha sido um peso em sua vida e um estrago para gerações de meninos. É um belo e triste filme. Mas quanta gente está causando estrago na sala de aula? É infeliz e leva sua infelicidade para a vida de tantos meninos e meninas por aí, e tudo porque "professor sempre vai ter emprego" ou "qualquer um pode ser professor". Crocker-Harris é o professor que a gente não deseja ser. É isso, Nunca te Amei, a versão que assisti, não saiu ainda em DVD no Brasil, mas vale a pena.
Se ainda sobrar um espaço, peguem a epopéia da professora mais determinada de todos os tempos, O Milagre de Anne Sullivan (The Miracle Worker). Aqui, a professora é a heroína, a “fazedora de milagres” que trouxe para o mundo uma menina cega e surda, a jovem Hellen Keller. Este saiu recentemente em DVD no Brasil. Mas aviso logo que ser Anne Sullivan é para muito poucos. Com certeza, eu não conseguiria fazer o que ela fez. Ah, sim! E se você odeia seus professores e a escola, a sugestão é o libertador IF. Sucesso de público quando eu estava no 1º ano. Foi surpresa descobrir que mesmo sendo um filme alternativo e passando tarde da noite, muitos de meus colegas asssitiram. Mas, é isso! Feliz Dia das Professoras e dos Professores para vocês! Quem puder, contribua para o nosso Shoujocast especial.
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