quinta-feira, outubro 20, 2011

Arqueólogos encontram o Ateliê mais antigo do mundo



Essa notícia está circulando faz vários dias e a Isto É trouxe um texto bem completo sobre a descoberta. Posto somente uma parte, quem qusier continuar lendo, visite a página da revista.
A maquiagem e as roupas coloridas remontam a uma época quase tão antiga quanto a do surgimento do próprio homem moderno. Muito antes da pintura nos olhos de Cleópatra, no Antigo Egito, o uso de minerais para colorir e proteger a pele, ou mesmo as roupas, era comum entre nossos ancestrais. Um novo estudo conclui que esse costume é bem anterior ao que imaginávamos. Arqueólogos descobriram uma espécie de ateliê na caverna Blombos, na África do Sul, onde, há 100 mil anos, humanos preparavam tintas à base de minerais. As evidências anteriores mais antigas eram de, pelo menos, 50 mil anos depois. O estudo foi divulgado na semana passada pela prestigiada revista científica “Science”.

A pesquisa, liderada pelo arqueólogo Christopher Henshilwood, da Universidade do Witwatersrand, em Johanesburgo, é baseada em artefatos encontrados em 2008 na caverna, localizada a cerca de 300 quilômetros da Cidade do Cabo. No local foram achados dois conjuntos de ferramentas de ossos, pedras e conchas. Além desses objetos, os arqueólogos encontraram vestígios de carvão e ocre – um tipo de terra ou pedra que contém óxidos vermelhos ou amarelos ou hidróxidos de ferro (que dão aspecto de ferrugem ao mineral).

De Olho no Vestibular: Cristãos perseguidos



Nos últimos dias a imprensa do mundo inteiro vem mostrando imagens das manifestações dos cristãos no Egito e da repressão promovida pelo novo governo. Desde a queda do regime ditatorial - e a substituição por outro que parece caminhar para algo semelhante - a situação dos cristãos é precária. A revista Isto É trouxe uma matéria sobre o assunto que pode ser tema dos próximos vestibulares:
Imagine um país onde a filiação religiosa deva constar no documento de identidade de todos os cidadãos, onde sua crença implique restrições para ocupar postos de trabalho, ter acesso à educação e se casar. No Egito, predominantemente islâmico, isso acontece e as principais vítimas da intolerância religiosa são os cristãos, que representam 10% da população. Na semana passada, o mundo testemunhou um derramamento de sangue no país. Vinte e cinco pessoas – a maioria fiéis coptas, como são chamados os cristãos que não seguem o Alcorão – morreram no domingo 9, no Cairo, em confronto com outros civis e o Exército. Tanques passavam por cima dos manifestantes sem dó. Carregando cruzes e imagens de Jesus, milhares de pessoas estavam nas ruas em um protesto inédito contra a opressão histórica patrocinada pelos muçulmanos. Os representantes do cristianismo se revoltaram depois de mais um incêndio sofrido por uma igreja copta. “A primavera no mundo árabe parece que acordou muita gente, inclusive os coptas”, diz o sacerdote católico Celso Pedro da Silva, professor emérito da Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo.

Com o estado de insegurança que domina o Egito após a queda do ex-presidente Hosni Mubarak, em fevereiro, grupos muçulmanos tentam demarcar mais territórios em meio à indefinição do poder público. E os coptas, historicamente marginalizados pelo governo, estão levantando a voz. Há severas restrições – só para citar uma fonte de discriminação – para a construção e reformas de templos cristãos, patrulha que não ocorre entre os muçulmanos. Em solo egípcio há apenas duas mil igrejas perante as 93 mil mesquitas. Na quinta-feira 13, o papa Bento XVI manifestou-se no Vaticano: “Uno-me à dor das famílias das vítimas e de todo o povo egípcio, desgarrado pelas tentativas de sufocar a coexistência pacífica entre suas comunidades.” O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu proteção à minoria copta e afirmou estar profundamente preocupado com o Egito.

A intolerância religiosa contra os cristãos não ocorre só no Egito. Um levantamento feito, em maio, pela Comissão sobre Liberdade Religiosa Internacional dos Estados Unidos mostra quanto a violência anticristã está disseminada mundo afora. Na China, segundo a comissão, pelo menos 40 bispos católicos estariam presos ou desaparecidos. Na Nigéria, cerca de 13 mil pessoas teriam morrido em conflitos violentos entre muçulmanos e cristãos desde 1999. Mais: na Arábia Saudita, lugares de cultos não muçulmanos são proibidos e livros escolares seguem pregando a intolerância a outras etnias. Irã e Iraque também são citados. No primeiro, mais de 250 cristãos teriam sido presos arbitrariamente desde meados de 2010. Já o país vizinho registra uma das maiores quedas no número de cristãos da sua história – em oito anos, esse grupo caiu pela metade e soma, hoje, 500 mil. “Os atos de violência têm como objetivo pressionar a população a abandonar suas terras”, explica Keith Roderick, secretário-geral da Coalizão para a Defesa dos Direitos Humanos.

Infelizmente tem funcionado. O Oriente Médio, berço do cristianismo, era constituído, no início do século XX, por cerca de 20% de seguidores de Jesus Cristo. Estimam os especialistas que o povo cristão atualmente não represente nem 2% dos habitantes daquela região. O papa Bento XVI chama a investida dos muçulmanos de “conquista à base da espada”. No ano passado, o Sumo Pontífice manifestou-se a favor da libertação de uma paquistanesa cristã condenada à forca por blasfêmia, no Paquistão, país onde mais de 30 pessoas foram assassinadas com essa justificativa. Asia Bibi, então com 45 anos, teria dito ao ser insultada por mulheres muçulmanas: “O que Maomé fez por vocês? Jesus, pelo menos, sacrificou-se por mim”. Graças à pressão internacional, a pena não foi cumprida, mas Asia aguarda novo julgamento. Ela é a primeira mulher na história a receber uma pena de morte por conta de perseguição religiosa. Um título que nenhum país deveria se orgulhar.
Acredito que notícias semelhantes às do Egito não tardarão a vir da Líbia e da Síria, caso se derrube o regime. Isso acrescido do Iraque, claro, cujos cristãos passam por sérias restrições depois da invasão Norte Americana. Ainda que ditatoriais e violentos, vários dos regimes que foram derrubados pela Primavera Árabe garantiam minimamente os direitos das minorias. Talvez até por isso, o ódio contra grupos religiosos minoritários venha à tona. Embora nada justifique uma ditadura, se ela é laica ou assim quer parecer, conflitos religiosos são contornados, reprimidos, ou não existem. Já das ditaduras religiosas não se pode dizer o mesmo. A intolerância religiosa ou de raiz religiosa cresce no mundo, a perseguição aos cristãos é uma das duas faces, a islamofobia é outra, a homofobia, mais uma delas. Fiquem atentos aos noticiários, pois este é um tema quente.

Cientistas conseguem reconstruir DNA da doença



A peste negra, que matou mais de 50 milhões de europeus entre 1347 e 1351, é a grande referência para os que temem uma nova pandemia. No entanto, estudo publicado na revista “Nature” mostra que a devastadora bactéria medieval difere muito pouco das que circulam hoje no mundo – o que leva os cientistas a acreditar que as causas da tragédia residem mais em fatores socioambientais do que nas características genéticas da patologia. Essa conclusão só foi possível porque, coletando resíduos de sangue de quatro ossadas, os pesquisadores conseguiram reconstruir todo o genoma da peste. É a primeira vez que uma enfermidade antiga tem seu DNA inteiramente desvendado.

Fonte: Revista Isto É

quarta-feira, outubro 19, 2011

Entrevista do Cabo Anselmo para a Roda Viva


O Cabo Anselmo é uma das figuras mais controsersas (*e sinistras*) do período da Ditadura Militar no Brasil. Ele foi o entrevistado do retorno do programa Roda Viva na TV Cultura. A entrevista foi ao ar em 17 de outubro de 2011. Vale assistir:

domingo, outubro 16, 2011

Cinema & História: Alexandria (Agora)



Já assisti Ágora tantas vezes que é uma vergonha não ter resenhado ainda, eu até tinha feito um post quando soube do filme, tinha ficado super contente, e esperei ansiosamente por ele nos cinemas. A estréia nunca aconteceu. Assisti Ágora ou Alexandria a primeira vez sozinha em casa, depois que desisti de esperar que estreasse nos cinemas brasileiros (*vergonha terem mandado um filme tão bom direto para DVD*), já exibi para duas turmas da faculdade e para o terceiro ano no Colégio Militar, já revi pedaços que acho mais interessantes. Na verdade, Ágora é um filme que entrou na lista dos meus favoritos, mesmo com vários problemas históricos, mesmo com várias críticas, considero o filme excelente. Aliás, a película de Alejandro Amenábar é o melhor filme querem conheço para discutir história da ciência, afinal, as limitações impostas por dogmas não são um problema somente no campo religioso.

Para quem não conhece a história do filme, ele começa em Alexandria do Egito, a segunda cidade mais populosa do Império Romano, no fim do século IV, quando Teodósio I transforma o cristianismo em religião oficial do Estado. Hyphatia, filósofa, matemática, astrônoma e médica (*embora o filme não comente isso*), vivia e ensinava na prestigiosa escola da cidade. É através dos olhos de Hyphatia e de seu escravo Davos que assistimos a ruína do que tinha sobrado da velha ordem pagã, que luta para não morrer, e o nascimento de um mundo cristão cada vez mais intolerante. Davos é apaixonado pela filósofa, assim como Orestes, seu aluno e futuro prefeito da cidade. Depois da trágica destruição da escola de filosofia, o filme dá um salto no tempo e nos coloca em uma Alexandria cristã, nela Davos se tornou membro de um grupo de fanáticos cristãos, os parabolani, que estão a serviço do bispo, Cirilo, que quer ser o maior poder e autoridade da cidade, e para isso, precisa derrotar o prefeito. A forma mais direta é roubar dele a pessoa que mais ama, sua amiga e antiga mestra Hyphatia. O final do filme, claro, é trágico...

Como é baseado em uma história real, não é spoiler dizer que Hyphatia morre no final do filme. Ela é considerada por muitos a primeira mártir pagã e uma das temáticas chave do filme é a intolerância religiosa que destrói viras e o trabalho científico da protagonista. Primeiro, a intolerância de pagãos contra cristãos, quando esses já se tornavam uma força, depois, dos últimos contra quem quer que não aderisse a sua fé. A expulsão dos judeus ilustra bem a questão. O filme também mostra como o Império – especialmente no Ocidente e Norte da África – vai enfraquecendo e as lideranças religiosas, como o Bispo Cirilo, tentam usurpar o poder civil. É aí que se dá o embate com o prefeito e a trágica morte da protagonista.

Os três protagonistas do filme estão muito bem. Rachel Weiz é uma Hyphatia que oscila entre o brilhantismo e o abatimento diante do desafio de entender as órbitas dos planetas e seu movimento com tantos dogmas filosóficos e científicos a atrapalhá-la. Ela também é bela – e não envelhece, como virou regra nos filmes e novelas – e tem atitude, coragem e humanidade. Mas o bom do filme é que não a livraram dos preconceitos da época, vide sua relação com Davos. Só me decepciona o final, mas eu falo disso mais tarde. O Orestes de Oscar Isaac faz o melhor papel masculino do filme para mim. A interação dele com Hyphatia, a paixão que ele transmite no olhar, o desespero do final... E a cena em que ele acha que Hyphatia vai dizer que queria poder amá-lo e descobre que ela está falando de seus planetas é ótima. Adoro a expressão dele. Na verdade, acho o Oscar Isaac lindo no filme, ele fica perfeito de toga. E há o Davos de Max Minghella, uma personagem cheia de nuances. Sua inteligência negligenciada e desprezada por ser escravo, sua angústia, a paixão não correspondida por sua senhora, a conversão e a adesão ao fanatismo cristão, ele desce ao inferno, literalmente. Meus alunos e alunas no Colégio Militar torciam por ele, a empatia com seu drama foi imediata. Queriam que ele terminasse com Hyphatia. Tadinhos! Não conheciam a história ...

A seqüência da destruição da Academia e da Biblioteca é muito emocionante, dramática e bem dirigida. A câmera vira de ponta à cabeça na cena em que livros e objetos de estudo são destruídos, mostrando que o mundo todo está enlouquecido. Aquele mundo, pelo menos... A analogia entre as massas intolerantes e formigas que vão de lá para cá também é muito bem feita. A fotografia e o figurino – simples e elegante – são trunfos do filme que foi o mais caro feito na Espanha até então. E o elenco é multirracial, nada de atores e atrizes brancos preenchendo todos os papéis. Temos a diversidade étnica do Império Romano e do Egito na tela. Isso é positivo, já que o branqueamento parece ser quase a regra para a maioria dos filmes. Ágora, no entanto, não preenche a Bechdel Rule. Hyphatia é uma personagem solitária, a mulher filósofa incompamas poderiam ter colocado pelo menos outra personagem feminina. Todas as mulheres fora Hyphatia são figurantes sem falas. O positivo da composição do elenco não é contrabalançada com uma um maior número de personagens femininas, mesmo que fosse somente para que Hyphatia brilhasse ainda mais.

E chegamos às coisas que me incomodam. Sinesius, um dos discípulos de Hyphatia, era cristão (no filme, desde a juventude, na vida real, não) e tornou-se bispo. Trata-se de uma personagem histórica. Quando entramos na reta final do filme, ele assume um tom anti-cristão e nem falo só da questão da destruição da biblioteca já que ninguém sabe verdadeiramente quem e quando foi destruída, se de uma vez ou em partes. Sinesius nunca traiu Hyphatia, na verdade, ele já estava morto quando de seu assassinato. Suas últimas cenas são uma difamação. Ora, poderiam ter criado uma personagem para cumprir essa função, não precisavam infamar uma personagem histórica. Outro problema é o prefeito. O original enfrentou o bispo e dizia com orgulho que tinha sido batizado pelo patriarca de Constantinopla, que estava acima do líder eclesiástico de Alexandria. No filme, Orestes é cristão de conveniência; até aí, OK, muitos eram, mas a forma como a personagem é massacrada no final é outra traição, uma forma de ilustrar, talvez, o quanto os cristãos eram visar... Ele também abandona Hyphatia ao ser reduzido à impotência por Cirilo e Sinesius. Eu odiei aquilo, pois o prefeito nunca traiu a amiga. E Hyphatia se entrega para morrer, afinal, seu mundo tinha sido destruído... Em nenhuma das fontes ela se entregou para ser massacrada. Ela foi arrastada, ela lutou... Apresentá-la como um animal indo para o sacrifício pode ter um efeito dramático (*uma aluna chorou copiosamente no final do filme*), mas não é fiel à personagem, que, provavelmente, era uma mulher de grande coragem, dignidade e já idosa quando destroçada pela turba de cristãos.

Mas, ainda que com essas ressalvas – e outras mais – eu amo Ágora. Aprendi muita coisa com o filme. Por exemplo, não sabia quem eram os temíveis parabolani. E é um material ótimo para se discutir história da ciência. Eu sinto a angústia de Hyphatia, lamento que ela não tivesse condições de deduzir a existência da gravidade, é desesperador o peso dos dogmas que se travestem de ciência ou a apatia. Tudo isso foi muito bem colocado em Ágora. Hyphatia no filme é uma sonhadora em tempos sombrios, tempos de fanatismos, tempos em que para ser um espírito prático como Orestes é preciso renunciar à imaginação. Enfim, recomendo muito este filme, muito, muito mesmo! Não se trata de um filme feminista, não vejo Hyphatia como uma defensora das liberdades femininas. Ela queria viver para a sua ciência em uma Alexandria cada vez mais obtusa e dominada por outras questões, como as cizânias religiosas. Triste o mundo em que as pessoas competem entre si para saber quem é o mais fanático... Esse é o caso da Alexandria do filme e, infelizmente, do nosso mundo de hoje.