sábado, março 03, 2012

Quando o Infanticídio era obrigatório: como os valores mudaram ao longo da História



O jornal inglês Daily Mail trouxe uma longa matéria sobre a discussão suscitada por uma filósofa que defende que os médicos tenham o direito de matar recém nascidos deficientes, porque eles não seriam seres humanos plenos. Não entrando, no mérito da discussão – e digo que sou contra o infanticídio – achei que o texto falando das diferentes perspectivas sobre a questão ao longo da História merecia ser traduzido. Claro, que faltou falar da prática dentro de sociedades cristãs e islâmicas, porque há muitas referências sobre isso, apesar das condenações religiosas, e que o judaísmo também condena o infanticídio, mas, no geral, é um texto bem escrito. O original está aqui. Segue a tradução:
Quando o Infanticídio era obrigatório: Como os valores mudaram ao longo da História

Apesar do infanticídio parecer um conceito desumano para muitas pessoas, houve períodos da história nos quais ele foi um comportamento aceitável – e mesmo uma obrigação legal. Na cultura romana, crianças com deficiências físicas eram freqüentemente abandonadas pelos pais que não as queriam ou podiam arcar com o encargo econômico. A criança seria simplesmente deixada do lado de fora da casa para morrer de fome ou vítima das intempéries em uma prática conhecida como "exposição". Era um procedimento estabelecido e aceitável.

Em 1912, a Villa de Yewsden foi escavada em Hambleden, Buckinghamshire, e os pesquisadores ficaram chocados ao descobrir os corpos de 97 bebês em um vala comum. Os bebês aparentemente tinham sido mortos logo depois do nascimento, e a teoria geralmente aceita era de que o sítio ficava perto de um bordel. Com a falta de métodos anticoncepcionais nos tempos romanos, gravidezes indesejadas deveriam ser muito mais comuns, e túmulos coletivos é um outro exemplo de que o infanticídio não deveria representar um grande dilema ético nesse período. Arqueólogos acreditam que os romanos não consideravam crianças como seres humanos "plenos" até que atingiam a idade de dois anos, e bebês que morriam antes dessa idade não eram enterrados em cemitérios, mas em áreas públicas ou comuns. Entretanto, um casal romano tinha o direito de criar uma criança com deficiências físicas.

Em Esparta, havia pouca escolha nesta questão. Recém nascidos eram vistos como propriedade do Estado e todos os bebês eram inspecionados pelo líder da comunidade. Se a criança mostrasse sinais de deformidade ou de problemas de saúde, os pais recebiam a ordem de expor [abandonar] a criança. Muitos pais na Antiga Grécia também abandonavam os recém nascidos por causa de doença, pressão financeira, ou simplesmente por ter o "sexo" errado em uma sociedade dominada pelos homens.

Muitas religiões não levantavam objeções morais ao infanticídio, apesar do Cristianismo e do Islã se distinguirem pela sua rejeição à prática. Deixar a criança "exposta" ao clima era o método preferido, porque significaria que a criança morreu por causas naturais, o que era uma morte mais "moralmente" aceitável do que matar diretamente a criança. A prática geralmente desapareceu, e foi colocada fora da lei nos últimos anos do Império Romano. Entretanto, há referências ao infanticídio em várias culturas em todos os períodos da História, e ainda se acredita que persista em certas regiões da Índia, da África, e China. A controversa política do “filho único" chinesa faz com que muitas crianças sejam abandonadas após o nascimento.
P.S.: Essa filósofa parece estar à serviço dos grupos que defendem o confisco do direito de aborto, porque esse tipo de analogia é típico dos grupos pró-vida.

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