Abri o Correio Braziliense hoje e fiquei feliz em ver que a historiadora Lilia Moritz Schwarcz e o quadrinista Spacca se uniram novamente para produzir um quadrinho histórico. Eu até preferia uma biografia de Pedro I para dar seqüência ao excelente D. João Carioca, mas pularam para D. Pedro II. O matéria de referência é a excelente biografia histórica do segundo e último imperador do Brasil, As Barbas do Imperador. Bem, eu duvido que eles não tenham conseguido fazer um quadrinho no mínimo interessante, na verdade, suspeito que deva ter ficado excelente. Segue a matéria do jornal aqui de Brasília. Quem quiser ler entrevista com o quadrinista Spacca, clique aqui.
Dom Pedro II em quadrinhos - Premiada biografia do último imperador brasileiro escrita por Lilia Moritz Schwarcz ganha versão com ilustrações de Spacca
Guilherme Pera
Especial para o Correio
Publicação: 17/02/2014 04:00
A imagem que se tem de Dom Pedro II é a de um homem envelhecido. Morto antes dos 70 anos de idade, o último imperador do Brasil ficou na memória nacional como um homem de fartas barbas brancas e um olhar frio. Isso é fruto da construção da personalidade do monarca, destinado a subir ao trono ainda cedo. A historiadora Lilia Moritz Schwarcz, no livro As barbas do imperador, vencedor do Prêmio Jabuti de 1999, mostra como foi a formação do governante e explica um pouco do país à época e a dissimulação da monarquia em retratar a imagem da nação e de seu mais longínquo mandatário. Uma adaptação para os quadrinhos, com ilustrações do renomado Spacca e textos da própria Lilia, chega agora ao mercado.
A colaboração entre escritora e ilustrador — que, juntos, desenvolveram o best-seller D. João carioca — vai desde o nascimento de Pedro de Alcântara, passa pela partida de D. Pedro I rumo a Portugal, pelo rito de coroação como D. Pedro II aos 7 anos de idade, pela Guerra do Paraguai e culmina na morte do derradeiro imperador do país. Por meio de desenhos inspirados em pinturas do francês Jean-Baptiste Debret e de outros artistas que retrataram o Brasil à época, e textos adequados à linguagem em quadros, Spacca e Lilia mostram como os símbolos foram utilizados por D. Pedro II para manter o poder. Afinal, como diz a própria Lilia, os quadrinhos “são um bom meio para explicar os fatos de maneira caricatural”.
Nessa representação, fica claro como o conceito de “monarca moderno” está atrelado ao uso da fotografia. Enquanto outros reis e imperadores usavam a pintura a óleo no retrato deles mesmos, D. Pedro II foi um entusiasta de primeira viagem dos daguerreótipos, construindo o que Lilia Moritz Schwarcz define como um “circuito fechado”. “O próprio D. Pedro II era fotógrafo. Os profissionais que vinham de fora eram financiados e patrocinados pelo Estado, portanto as fotografias que retratam o Brasil da época são uma construção da monarquia”, explica. “É por isso que, em um país em que 75% da população era escrava, os retratos eram de uma nação feliz, na qual os escravos eram passivos, o que é mentira”, completa.
Eurocentrismo
A importância do relato, considerado um marco na historiografia brasileira por encarar de forma original a mística da monarquia do país, então, se dá em “lembrar o passado para entender o presente”, segundo a própria autora. O racismo velado, recorrente em um país tão celebrado pela diversidade, é bastante influenciado pela figura de D. Pedro II, personalidade ainda hoje popular entre os brasileiros.
“Até muito pouco tempo atrás, persistia no Brasil a ideia de se querer um governante diferente do cidadão comum, como era o caso do último imperador, loiro, alto, de olhos azuis e de família europeia”, diz Lilia. “A situação mudou, até com a figura do Lula no poder. Entretanto, se olharmos os dados de mercado de trabalho, homicídios, renda, entre outros, veremos que o Brasil ainda é, sim, um país que discrimina negros e indígenas”, contrapõe.
As barbas do imperador: D. Pedro II, a história de um monarca em quadrinhos - De Lilia Moritz Scharcwz e Spacca. Quadrinhos na Cia, 144 páginas. Preço sugerido: R$ 49