terça-feira, março 12, 2019

1º TRIMESTRE: ROMA - REPÚBLICA - PARTE 2


DA CRISE NASCE O IMPÉRIO
(Século II até o ano 27 a.C.)

>>O século II a.C. foi marcado por inúmeras crises políticas e conflitos sociais que debilitaram a estrutura de governo da República. Plebeus desejavam mais espaço na política e igualdade jurídica com os patrícios, que resistiam para manter seus interesses.  Miseráveis nas cidades serviam de massa de manobra para as insurreições, escravos se revoltavam. Enfim, Roma era poderosa mas ao mesmo tempo frágil.

Cornelia  e seus filhos,
os irmãos Graco. Jules Cavelier (1861) 
>> OS IRMÃOS GRACO: Tibério e Caio Graco foram figuras emblemáticas da luta por melhores condições para a plebe empobrecida. Não se deve pensar que eles queriam mudar as estruturas de Roma, mas, sim, que tinham visão de que os conflitos sociais ameaçavam a estabilidade da República. Tibério, eleito tribuno da plebe em 133 a.C., propôs que se fizesse uma reforma agrária indenizando os donos das terras desapropriadas, que se reduzisse o tempo de serviço militar, e que se contratassem os desempregados para trabalhar em obras públicas, como estradas. O Senado temeroso de que as reformas prejudicassem os patrícios, não deu condições para que Tibério levasse adiante o seu projeto. O tribuno foi morto em um comício quando buscava a reeleição. 

O irmão de Tibério, Caio, se elegeu tribuno dez anos depois com o apoio dos equestres. Tinha como objetivo levar adiante o projeto de seu irmão e propôs que se criassem novas colônias e que se desenvolvessem atividades comerciais em benefício dos plebeus, também queria que se vendesse trigo a baixos preços a população urbana pobre. Outra de suas propostas era conceder a cidadania plena para todos os habitantes da Itália, os "aliados" (socii).  Buscando apoio dos poderosos às suas reformas, tentou se aproximar dos Equestres, defendendo que esse grupo tivesse acesso aos mesmos privilégios da classe senatorial.  Caio conseguiu se reeleger tribuno da plebe, mas enfrentou fortíssima oposição do Senado que o acusou de sacrilégio, pois queria estabelecer uma colônia plebeia onde havia sido Cartago. O tribuno, em desgraça, teve que se suicidar e seus aliados foram reprimidos e cerca de 3 mil assassinados.


Mário e Sila.
>>MARIO E SILA: Dois generais que marcaram a política romana seus governos representaram mais um passo no desmonte das estruturas de governo republicanas. Mario era um plebeu enriquecido que tinha feito carreira no exército. Vitorioso no Norte da África, conseguiu se eleger graças aos votos do exército de maioria plebeia. Como cônsul Mario promoveu a reforma do exército romano: profissionalizou o exército criando o soldo, admitiu pela primeira vez os proletários, abriu para todos a possibilidade de fazer carreira militar, concedeu aos soldados direito nos ganhos de uma guerra e direito a lotes de terra quando se aposentassem.  O novo modelo de exército era marcado pelo alistamento obrigatório por 16 anos, estendido posteriormente para 20 anos.  O soldado profissional podia passar por treinamento intensivo, porque estava permanentemente mobilizado, foi um divisor de águas na história militar romana. 

Muito popular, Mario foi reeleito seis vezes, o que era contra as leis de Roma. É então que se projeta no panorama político romano um outro general, Sila. De família patrícia empobrecida, e bem mais ao gosto do Senado, ele também era um herói militar, afinal, tinha subjugado as cidades da Península Itálica (91 a.C.).[1] Sila se elege cônsul e obtém do Senado um comando que Mario aspirava, o resultado do embate político-militar entre os dois é a derrota e exílio do plebeu. Único senhor de Roma (ditador) e com o apoio do Senado ele persegue os partidários de Mario, criando uma lista de proscritos que contavam com cerca de cem senadores e 2500 cavaleiros. Sila permanece no posto de 88 até 80 a.C. quando se retira do governo. Durante seu governo os plebeus foram prejudicados em seus direitos.


Espártaco virou balé em 1954 na extinta URSS. 
Foto de uma apresentação do Balé Bolshoi.
>>GUERRAS SERVIS E ESPÁRTACO: As chamadas guerras servis foram revoltas de escravos em larga escala.  As duas primeiras (135-132 a.C., 104-100 a.C.) aconteceram na Sicília, conhecida como "celeiro de Roma", e envolveram milhares de escravos.  Roma mobilizou muitos soldados e promoveu o massacre dos revoltosos.  A terceira guerra (73-71 a.C.), ocorreu dentro da Itália e é também chamada de Guerra dos Gladiadores e Guerra de Espártaco, por causa do seu líder.  Espártaco era um escravo gladiador e sua tropa de escravos e outros que a eles se juntaram, chegaram a derrotar as legiões romanas em diversas ocasiões.  Havia o boato de que desejavam conquistar Roma, mas nunca marcharam sobre a cidade.  Os planos seriam chegar até a Sicília.  Por fim, o comando das tropas foi dado à Crasso, um pretor e conhecido como homem mais rico de Roma.  Espártaco chegou a derrotar Crasso uma vez, mas houve reação.  O retorno de Pompeu com suas legiões da Espanha, apressou o fim da guerra.  Espártaco tentou negociar, mas Crasso precisava de uma vitória de impacto para impedir que Pompeu roubasse seu triunfo.  Em um último combate, Crasso derrotou o exército de escravos e mais de 12 mil foram mortos, os que não tombaram no campo de batalha, foram crucificados.  Já Pompeu capturou os fugitivos, que, segundo as fontes da época, eram de aproximadamente 5 mil.

>> AS LUTAS ENTRE OPTIMATES E POPULARES: Essas duas facções políticas discordavam em seus objetivos e provocaram sérias agitações em Roma desde a época de Mário e Sila. Os optimates ("aristocratas", "os melhores") acreditavam que somente aqueles que vinham de família com tradição política poderiam ser eleitos aos cargos públicos e defendiam o aumento do poder do Senado. Os populares defendiam que o maior poder fosse dado às assembleias do povo e aos tribunos que eram eleitos por ela. Júlio César apoiava as idéias dos populares e Pompeu dos optimates.

Júlio César, Crasso e Pompeu.
>>O PRIMEIRO TRIUNVIRATO: Depois de uma longa ditadura, são eleitos dois cônsules, Pompeu e Crasso, ambos generais. Aliás, o governo de generais foi comum nesse período final da República. Crasso era plebeu, talvez o homem mais rico da história de Roma, um general vitorioso e respeitado, pois havia derrotado Espártaco e sua rebelião de escravos que por quase três anos (73-71 a.C.) questionou o modelo escravista e impôs terror aos romanos. Para conferir maior credibilidade e estabilidade ao governo, um outro general que havia submetido as Gálias, Júlio César foi convocado a compor o governo. Estava formado o Triunvirato (60 a.C.). Após o assassinato de Crasso, Pompeu e César se enfrentam pelo poder. Júlio César sai vitorioso e se torna único cônsul em 48 a.C.
Moeda com a efígie de Júlio César.
>>REFORMAS DE CÉSAR: Ao assumir o governo sozinho, Júlio César vai levar adiante uma série de reformas: redução da autoridade do Senado; adoção do calendário solar egípcio; codificação das leis e aumento das penas para os crimes comuns; concessão de cidadania aos habitantes da Gália e da Península Ibérica; doação de terras aos soldados; cancelamento do direito de cobrar impostos dos publicanus; fortalecimento da moeda romana; fim dos privilégios dos habitantes da Itália; determinação de que para cada escravo empregado em grandes propriedades deveria ser contratado um cidadão livre. César caiu em desgraça com o Senado e alguns o viam como alguém que pretendia por fim à República e se tornar rei, por isso terminou sendo assassinado em 44 a.C. O Senado não contava que a população se revoltaria e acabou tendo que recuar e os conspiradores foram afastados do governo.

Otávio, Marco Antônio e Lépido.
>>O SEGUNDO TRIUNVIRATO: Iniciado em 42 a.C. era composto por Lépido – general de César – governava o Norte da África, Marco Antônio – braço direito de César – ficou com o Oriente, e Otávio – sobrinho-neto e herdeiro de Júlio César – governava o Ocidente. A Itália seria área neutra. Pressionado por Otávio, o Senado destituiu Lépido e o sobrinho de César se tornou o único governante do ocidente. Marco Antônio fez uma aliança com Cleópatra, Rainha do Egito, e tentou separar a parte Oriental, e mais rica, do resto da República. Otávio e Marco Aurélio se enfrentaram e o primeiro ganhou. Marco Aurélio e Cleópatra se suicidaram, e Otávio se tornou o único senhor de Roma, agora com o título de imperador.

[1] Depois da chamada Guerra Social (91-88 a.C.), Roma terminou concedendo a cidadania romana para a maioria dos homens livres das cidades italianas (*aliados/socii*) como forma de demonstrar a sua boa vontade, já que os habitantes da Península argumentavam que não havia vantagem em fazer parte da República.

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