Com o desenvolvimento da Igreja Cristã, peculiaridades regionais começaram a ter impacto sobre a forma como as pessoas cultuavam e pensavam sua fé. Por isso, os concílios foram importantes para estabelecer o que seria essencial para garantir certa unidade para a fé cristã. Essas grandes reuniões reuniam representantes de todas as regiões do Império Romano e, posteriormente, de toda a cristandade. Dos primeiros concílios os mais importantes foram os de Nicéia (325) e o de Constantinopla I (381).
As cinco Sés Apostólicas (Pentarquia): Roma, Jerusalém, Antioquia, Alexandria e Constantinopla. |
No início, havia quatro bispos (*ou patriarcas*) mais importantes, pois segundo a tradição cristã, a igreja naquelas cidades teria sido fundada pelos apóstolos. Jerusalém, Antioquia, Alexandria e Roma, que teria primazia por ser capital do Império e ter sua igreja associada a dois apóstolos, Pedro e Paulo. Com a transferência da capital do Império para Constantinopla, esta cidade assumiu um status equivalente ao das outras quatro, ainda que Roma mantivesse certa primazia. Com o avanço do Islã, porém, Antioquia, Jerusalém e Alexandria saíram com controle dos cristãos e sobraram Roma e Constantinopla.
Manuscrito bizantino do século IX mostrando a destruição dos ícones. |
Enquanto no Ocidente os problemas eram mais de ordem administrativa e disciplinar, no Oriente, as questões teológicas geravam intensas discussões e tensões dentro do Império do Oriente. Como vocês devem lembrar, Justiniano (527-565) reconquistou parte da Itália e, portanto, havia igrejas com rito grego no centro-sul da península. Havia, também, igrejas latinas em Constantinopla, mas em número muito menor. Com o passar do tempo, as querelas teológicas bizantinas, o avanço do Islã e o fortalecimento do bispo de Roma (*papa*) a relação entre as duas igrejas passou a ser muito hostil, culminando com a ruptura oficial em 1054. Como motivações poderíamos listar:
- Havia quem questionasse a presença de Constantinopla entre as sés apostólicas, afinal, a igreja desta cidade não havia sido fundada por um apóstolo. Já Constantinopla alegava que a igreja na cidade teria sido fundada pelo apóstolo André.
- Apesar de já superada no século XI, a questão da veneração de imagens (*questão iconoclasta, 727-843*), iniciada pelo imperador Leão III (795-816), que havia conduzido à perseguições e destruição de obras sacras continuava a dividir ocidentais e orientais. A ideia de banir a arte religiosa ia contra as teses defendidas por papas importantes, como Gregório Magno. Na Itália bizantina, as imagens tinham sido proibidas e muitos orientais se refugiaram em Roma. Essa ferida continuava aberta.
- Os ocidentais decidiram alterar a parte do credo de Nicéia que tratava da Santíssima Trindade (*Filioque). Os orientais não aceitaram a mudança. As igrejas gregas na Itália foram forçadas a aceitar o rito latino, ou teriam que fechar. Constantinopla retaliou e fechou as igrejas latinas na cidade.
- Havia diferenças na forma como o pão da eucaristia (*santa ceia*) era apresentado. Deveria ser levedado, ou não?
- Em Constantinopla, a ideia de impor o celibato (*proibição de casamento*) a todos os padres, como se estava fazendo no Ocidente, parecia absurda.
- O Bispo de Roma clamava autoridade sobre toda a igreja cristã e quem mandava na igreja oriental eram os imperadores bizantinos. Representantes do papa excomungaram o patriarca Miguel Cerulário durante uma visita a Constantinopla em 1054. Disso resultou a ruptura oficial entre as igrejas.
Católicos romanos em laranja; Católico ortodoxos em azul; heresia dos Bogomilos em rosa. |
Mais importante é considerar que as diferenças culturais e linguísticas, as distâncias geográficas e os interesses políticos tiveram o papel decisivo na separação entre as igrejas cristãs. Cada igreja seguiu seu caminho e o fim do Império Bizantino em 1453 tornou as diferenças ainda mais visíveis. Tal situação de estranhamento permaneceu até o século XX, quando tentativas de reaproximação, ou pelo menos de diálogo foram tentadas por líderes religiosos importantes, como o Papa João Paulo II.
BIBLIOGRAFIAANGOLD, Michel. Bizâncio: A Ponte da Antiguidade para a Idade Média. Rio de Janeiro: Imago, 2002.
BAUMGARTNER, Mireille. A Igreja no Ocidente - Das Origens às Reformas no Século XVI. Lisboa: Edições 70, 2001.
DUFFY, Eamon. Santos & Pecadores - História dos Papas. São Paulo: Cosac & Naify, 1998.
GONZÁLEZ, Justo L. História Ilustrada do Cristianismo - A Era dos Mártires até a Era dos Sonhos Frustrados. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2011.
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