domingo, abril 21, 2019

1º Trimestre: Grande Cisma do Oriente (1054): Quais as principais motivações para o rompimento entre as Igrejas?


Com o desenvolvimento da Igreja Cristã, peculiaridades regionais começaram a ter impacto sobre a forma como as pessoas cultuavam e pensavam sua fé.  Por isso, os concílios foram importantes para estabelecer o que seria essencial para garantir certa unidade para a fé cristã.   Essas grandes reuniões reuniam representantes de todas as regiões do Império Romano e, posteriormente, de toda a cristandade.  Dos primeiros concílios os mais importantes foram os de Nicéia (325) e o de Constantinopla I (381). 

As cinco Sés Apostólicas (Pentarquia): Roma, Jerusalém,
Antioquia, Alexandria e Constantinopla.
No início, havia quatro bispos (*ou patriarcas*) mais importantes, pois segundo a tradição cristã, a igreja naquelas cidades teria sido fundada pelos apóstolos.  Jerusalém, Antioquia, Alexandria e Roma, que teria primazia por ser capital do Império e ter sua igreja associada a dois apóstolos, Pedro e Paulo.  Com a transferência da capital do Império para Constantinopla, esta cidade assumiu um status equivalente ao das outras quatro, ainda que Roma mantivesse certa primazia.  Com o avanço do Islã, porém, Antioquia, Jerusalém e Alexandria saíram com controle dos cristãos e sobraram Roma e Constantinopla.

Manuscrito bizantino do século IX mostrando a destruição dos ícones.
Enquanto no Ocidente os problemas eram mais de ordem administrativa e disciplinar, no Oriente, as questões teológicas geravam intensas discussões e tensões dentro do Império do Oriente.  Como vocês devem lembrar, Justiniano (527-565) reconquistou parte da Itália e, portanto, havia igrejas com rito grego no centro-sul da península.  Havia, também, igrejas latinas em Constantinopla, mas em número muito menor.  Com o passar do tempo, as querelas teológicas bizantinas, o avanço do Islã e o fortalecimento do bispo de Roma (*papa*) a relação entre as duas igrejas passou a ser muito hostil, culminando com a ruptura oficial em 1054.  Como motivações poderíamos listar:
  • Havia quem questionasse a presença de Constantinopla entre as sés apostólicas, afinal, a igreja desta cidade não havia sido fundada por um apóstolo.  Já Constantinopla alegava que a igreja na cidade teria sido fundada pelo apóstolo André.
  • Apesar de já superada no século XI, a questão da veneração de imagens (*questão iconoclasta, 727-843*), iniciada pelo imperador Leão III (795-816), que havia conduzido à perseguições e destruição de obras sacras continuava a dividir ocidentais e orientais.  A ideia de banir a arte religiosa ia contra as teses defendidas por papas importantes, como Gregório Magno.   Na Itália bizantina, as imagens tinham sido proibidas e muitos orientais se refugiaram em Roma.  Essa ferida continuava aberta.
  • Os ocidentais decidiram alterar a parte do credo de Nicéia que tratava da Santíssima Trindade (*Filioque).  Os orientais não aceitaram a mudança.  As igrejas gregas na Itália foram forçadas a aceitar o rito latino, ou teriam que fechar.  Constantinopla retaliou e fechou as igrejas latinas na cidade.
  • Havia diferenças na forma como o pão da eucaristia (*santa ceia*) era apresentado.  Deveria ser levedado, ou não? 
  • Em Constantinopla, a ideia de impor o celibato (*proibição de casamento*) a todos os padres, como se estava fazendo no Ocidente, parecia absurda.
  • O Bispo de Roma clamava autoridade sobre toda a igreja cristã e quem mandava na igreja oriental eram os imperadores bizantinos.  Representantes do papa excomungaram o patriarca Miguel Cerulário durante uma visita a Constantinopla em 1054.  Disso resultou a ruptura oficial entre as igrejas.
Católicos romanos em laranja; Católico ortodoxos
em azul; heresia dos Bogomilos em rosa.
Mais importante é considerar que as diferenças culturais e linguísticas, as distâncias geográficas e os interesses políticos tiveram o papel decisivo na separação entre as igrejas cristãs.  Cada igreja seguiu seu caminho e o fim do Império Bizantino em 1453 tornou as diferenças ainda mais visíveis.  Tal situação de estranhamento permaneceu até o século XX, quando tentativas de reaproximação, ou pelo menos de diálogo foram tentadas por líderes religiosos importantes, como o Papa João Paulo II.

BIBLIOGRAFIA

ANGOLD, Michel.  Bizâncio: A Ponte da Antiguidade para a Idade Média.  Rio de Janeiro: Imago, 2002.
BAUMGARTNER, Mireille.  A Igreja no Ocidente - Das Origens às Reformas no Século XVI.  Lisboa: Edições 70, 2001. 
DUFFY, Eamon. Santos & Pecadores - História dos Papas.  São Paulo: Cosac & Naify, 1998.
GONZÁLEZ, Justo L.  História Ilustrada do Cristianismo - A Era dos Mártires até a Era dos Sonhos Frustrados.  2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2011.

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